Programas de treinamento muscular respiratório: impacto na autonomia funcional de idosos
O aumento na expectativa de vida, em consequência da melhoria da qualidade da assistência médica e do saneamento básico, e a redução da fecundidade são fatores responsáveis pela modificação da pirâmide etária no sentido de um grande aumento da população idosa1.
A crescente proporção de idosos com incapacidades e fragilizados nas capitais brasileiras, a redução da disponibilidade de cuidado familiar e transferências intergeracionais no contexto urbano, a inexistência de serviços de apoio social e de saúde, o alto custo do cuidado domiciliar, moradias com espaço físico reduzidos e estruturas com riscos para quedas e a violência contra o idoso são considerados fatores de risco para a institucionalização2.
No Brasil, com o número cada vez maior de idosos, a possibilidade de poder vir a morar em uma instituição de longa permanência (ILP), se necessário, é algo já pensado e possível para quase dois terços dos idosos, se não houver outra opção3. A transferência de um idoso de sua casa para a instituição tem o potencial para produzir agravos como: depressão, confusão mental, perda do contato com a realidade, despersonalização e um senso de isolamento e separação da sociedade3.
Sabe-se que à medida que o ser humano envelhece, muitas tarefas do cotidiano consideradas banais e, portanto, de fácil execução vão paulatinamente e muitas vezes de forma imperceptível tornando-se cada vez mais difíceis de serem realizadas, até que o indivíduo percebe que já depende de outra pessoa para realização de suas atividades de vida diária (AVD)4.
Com o avançar da idade, ocorre um decréscimo da força dos músculos esqueléticos principalmente após a sexta década de vida. Essa diminuição é observada semelhantemente na musculatura respiratória, com relatos em pesquisas científicas5, 6.
Estudos relacionados ao exercício respiratório quase sempre abordam patologias respiratórias crônicas e poucos trabalhos dedicam-se à população idosa sem alterações patológicas. Assim, uma intervenção de baixo custo, que melhore a expansibilidade torácica, poderá ser de grande valia, já que um sistema respiratório eficiente pode prevenir ou otimizar a recuperação frente a patologias respiratórias comuns nesta população. A inclusão do fortalecimento da musculatura inspiratória nos programas de treinamento físico dos idosos pode ser considerada como um recurso fisioterapêutico adicional7, 8.
Os idosos institucionalizados parecem estar mais propensos a esses fatores de risco, devido à pouca mobilidade que são expostos, por permanecerem na dependência de outras pessoas (cuidadores) para a realização do autocuidado, potencializando ainda mais a perda da autonomia funcional.
Quanto à independência funcional, existem vários testes descritos na literatura para avaliação da capacidade funcional. Para o Grupo de Desenvolvimento Latino-Americano para a Maturidade (GDLAM), a autonomia é definida em três aspectos: autonomia de ação, autonomia de vontade e autonomia de pensamentos. Pode-se concluir que autonomia não deve ser definida em apenas um aspecto, ângulo ou uma única perspectiva, mas em um contexto holístico. Portanto, autonomia está associada ao declínio na habilidade para desempenhar as atividades de vida diária (AVD), e à gradual redução das funções musculares, a qual constitui uma das principais perdas com o avançar da idade9.
Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi comparar dois programas de treinamento muscular respiratório, na melhoria da autonomia funcional de idosos institucionalizados. Optou-se por comparar diferentes programas de treinamento pela diferença de custos que eles representam.
Métodos
Amostra
Trata-se de um ensaio clínico experimental aleatorizado, realizado em instituições de longa permanência. Para compor a amostra, os idosos deviam estar aptos física e cognitivamente para participar dos testes propostos pelo estudo. Inicialmente, atendiam aos critérios de inclusão e participavam do estudo 54 idosos institucionalizados, sendo que destes foram excluídos: um por déficit cognitivo, um por óbito por acidente vascular encefálico, um por déficit visual (glaucoma) e nove por falta de adesão ao treinamento. Foram adotados como critérios de exclusão os idosos que estivessem em fase aguda de afecções do aparelho cardiorrespiratório, os que não possuíam nível cognitivo satisfatório para a compreensão e realização dos testes, tanto avaliativos quanto para os exercícios propostos nos programas de treinamento, portadores de sequelas músculo-esqueléticas e neurológicas, síndromes metabólicas não controladas ou tratadas. Também a não aderência por mais de uma semana aos programas de treinamento foi determinada, para que não interferissem nos resultados encontrados.
Desta forma, após o crivo dos critérios de inclusão e de exclusão, a amostra findou em 42 idosos voluntários, divididos, aleatoriamente (sorteio), em três grupos: Grupo Threshold® (GT), Grupo Voldyne® (GV) e Grupo Controle (GC), distribuídos com média de idade e índice de massa corpórea (IMC), conforme Tabela 1.
Os grupos GT, GV e GC foram tratados com o mesmo protocolo de exercícios respiratórios. Sendo que ao GT foi associado o protocolo de exercícios o treino muscular com o equipamento Threshold, o GV associou ao protocolo o equipamento Voldyne, e o GC realizou apenas o protocolo de exercícios respiratórios.
Os idosos e a instituição, após receberem as informações sobre o treinamento muscular respiratório e execução dos testes do protocolo de GDLAM, assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Castelo Branco (UCB-RJ), (parecer 0043/2008), atendendo aos princípios éticos previstos na Declaração de Helsinki de 2000.
Procedimentos
Os procedimentos para realização deste estudo constaram de uma fase preliminar (pré-treinamento), composta de avaliação completa dos idosos, contendo dados pessoais, anamnese e exame físico e logo após aferição das pressões respiratórias máximas foram feitos os testes funcionais através do protocolo de GDLAM. O instrumento utilizado para aferir das pressões respiratórias máximas, foi o manovacuômetro aneróide critical med® - USA, ±120cmH2O, com intervalo operacional de 4 em 4 cmH2O. Foram aferidas a pressão inspiratória máxima (Pimáx), a partir do volume residual - VR, e a Pressão expiratória máxima (Pemáx) a partir da capacidade pulmonar total (CPT). Após as dez semanas de treinamento foram feitas as mesmas avaliações supracitadas para a obtenção dos resultados.
Treinamento muscular respiratório para o grupo Threshold (GT)
Para o treinamento muscular respiratório, os idosos foram submetidos a um programa de exercícios respiratórios, conforme estudo de Ide et al.7, que avaliou a melhora da expansibilidade torácica em idosos saudáveis. O programa foi composto dos seguintes exercícios: exercício ativo/resistido de adução-abdução horizontal da articulação do ombro, exercício ativo/resistido de flexão-extensão da articulação do ombro, exercício ativo/resistido de flexão anterior associada à rotação do tronco, exercício ativo/resistido de flexão lateral de tronco, exercício ativo/resistido de rotação lateral de tronco, exercício ativo de elevação dos membros superiores acima da cabeça, relaxamento final - inspiração e expiração profunda, sem o acompanhamento de outros movimentos.
Para o grupo Threshold, foram realizados estes exercícios e logo após foi utilizado o Threshold® IMT (Respironics USA - 2004). É comercialmente disponibilizado na forma de um cilindro plástico transparente, contendo, em uma das extremidades, uma válvula que se mantém fechada pela pressão positiva de uma mola e, na outra extremidade, um bocal. A válvula bloqueia o fluxo aéreo até que o paciente gere pressão inspiratória suficiente para vencer a carga imposta pela mola. A utilização do Threshold para esse estudo foi iniciada com uma carga de trabalho instalada gradualmente, começando pelo valor de 50% da Pimáx de cada indivíduo, sendo acrescidos 10% por semana, até a quarta semana. A partir da quinta semana, foram acrescidos 5% até completar 100% na oitava semana ou o valor de pressão máxima do Threshold IMT (41cmH2O). A partir de então, este valor foi mantido nas duas últimas semanas. As sessões tiveram duração de 20 minutos, sendo sete séries de fortalecimento (dois minutos cada) e um intervalo de um minuto entre as séries, durante 10 semanas, três vezes por semana10.
Treinamento muscular respiratório para o grupo Voldyne (GV)
Para o GV os mesmos exercícios propostos por Ide et al7, porém os idosos utilizaram como incentivador respiratório o Voldyne, equipamento com carga pressórica alinear. A técnica de sustentação máxima inspiratória (SMI) utilizando o Voldyne é feita com a mobilização de grandes volumes pulmonares, responsáveis pelo aumento da pressão intra-alveolar ao final da inspiração sustentada. O aumento da pressão intra-alveolar é diretamente proporcional à força contrátil dos músculos respiratórios, diafragma e acessórios, justificando assim o fato de que, para alcançar a CPT e sustentar a inspiração nesse nível, ocorre uma intensa atividade muscular11.
Foi utilizada a espirometria de incentivo (EI) com o equipamento Voldyne® e foram preconizadas algumas orientações sugeridas por Machado12. O paciente foi posicionado com inclinação do tronco em 300 em relação ao plano horizontal, proporcionando maior recrutamento diafragmático. O aparelho permanecia disposto na linha vertical. A inscrição referente ao volume ficou visível para o idoso, ocorrendo efeito de biofeedback visual, à medida que conseguia atingir o volume preconizado era aumentado gradativamente até que conseguisse a nova meta. O idoso foi orientado a realizar uma inspiração lenta e profunda até a CPT, a partir da capacidade residual funcional (CRF). A inspiração lenta favorece um fluxo laminar. A sustentação máxima da inspiração, em torno de três segundos, foi estabelecida. A expiração foi feita de forma fisiológica, ou seja, até a CRF. Durante a utilização do Voldyne foi evitado que o paciente hiperventilasse. Intervalos de 60 segundos entre as inspirações sustentadas máximas foram recomendadas.12 Os idosos recebiam um comando verbal no momento de iniciar uma nova inspiração. Nesse estudo, a utilização do Voldyne foi feita por 20 minutos, ou seja, 40 repetições, totalizando duas repetições a cada minuto. O referido programa de treinamento muscular respiratório teve uma duração de 10 semanas e frequência de três vezes por semana. A supervisão ao grupo de idosos foi feita de maneira contínua durante os 20 minutos, observando-os para que não fizessem hiperventilação.
Treinamento do grupo Controle
Realizou apenas exercícios respiratórios, conforme estudo de Ide et al.7
Para a realização dos programas de treinamento todos os idosos foram avaliados individualmente, porém treinados em grupo com atenção especial a cada um dos participantes do estudo. Para os idosos do GT foram oferecidas as cargas de pressão para o Threshold, e para os do GV, a capacidade inspiratória máxima, conforme os valores obtidos na avaliação de cada indivíduo. Optou-se pelo treinamento em grupo com a intenção de proporcionar maior integração social entre os idosos.
Foi utilizado para atender o propósito desse estudo o protocolo de autonomia funcional do GDLAM, composto por cinco testes: C10m (caminhar 10 metros)13; LPS (levantar da posição sentada)14; LPDV (levantar da posição de decúbito ventral)15; LCLC (levantar caminhar e locomover pela casa)16; VTC (vestir e tirar a camiseta)17. Após essa etapa os dados obtidos foram colocados em uma fórmula para o cálculo do índice geral de autonomia - índice GDLAM (IG).
Cada idoso efetuou duas tentativas para cada teste e foi registrada a execução mais rápida, ou seja, o menor tempo em segundos, antes e depois das 10 semanas do treinamento muscular respiratório.
Concluída esta fase, os resultados dos tempos obtidos nos testes e o IG calculado, em escores, foram classificados de acordo com padrão de avaliação da autonomia funcional do protocolo GDLAM indicado na Tabela 2.
Tratamento estatístico
Foi utilizada estatística descritiva com média e desvio padrão para a idade, o índice de massa corpórea e autonomia funcional. A normalidade da amostra foi avaliada pelo teste de Shapiro-Wilk e a homogeneidade de variância pelo teste de Levene. Para a análise das variáveis respostas, foi utilizado na análise intragrupos, o teste T de Student pareado ou de Wilcoxon, quando apropriado (distribuição homogênea ou heterogênea dos dados, respectivamente). Para a avaliação intergrupos, foi utilizado o teste não paramétrico de Kruskal Wallis seguido das comparações múltiplas pelo teste de Mann-Whitney. Adotou-se o nível de p<0.05 para a significância estatística. Para a avaliação dos resultados foram utilizados o programa Excell e o pacote estatístico SPSS 14.0.
Resultados
Para avaliar a normalidade da amostra utilizou-se o teste de Shapiro Wilk (SW) p<0,05. Foi encontrada uma distribuição heterogênea dos dados em: (a) GV: LPS (p=0,013); LPDV (p=0,017); (b):GC: C10m (p=0,043); LPDV (0,036); LCLC (p=0,018).
Na Tabela 3 estão obtidos dados para a média e desvio padrão da autonomia funcional dos grupos Threshold (GT), Voldyne (GV) e Controle (GC), tanto para a comparação intragrupos (pré x pós) quanto para intergrupos (pós x pós).
Também foi feito o cálculo para o Δ % (delta percentual) para todos os grupos que receberam diferentes programas de treinamento muscular respiratório.
Para o grupo Threshold, quando comparados pré e pós intervenção houve diferença significativa (p<0,05) para todos os testes, sendo que o Δ % negativo, revela que neste grupo os idosos após intervenção, obtiveram um menor tempo (em segundos), para a realização dos testes para a autonomia funcional segundo o protocolo de GDLAM (C10m: Δ %= -20,57, p=0,0001; LPS: Δ %= -13,53, p=0,020; VTC: Δ %= -27,96, p=0,0001; LCLC: Δ %= -18,71, p=0,0001 e IG: Δ %= -18,43, p=0,0001), exceto no LPDV.
Entretanto, no GV só houve diferença significativa (p<0,05) com um menor tempo significativo para o teste C10m (Δ %= -17,11; p=0,004).
O Grupo Controle não obteve melhora significativa em nenhum dos testes pós a intervenção.
Porém, quando os grupos foram comparados entre eles (pós x pós), houve uma significância estatística (p<0,05) somente para o teste VTC entre o GT e o GV (Δ %= -3,62; p=0,017), sendo os resultados favoráveis ao GT. Semelhantemente houve diferença estatística (p<0,05) do GT no C10m (Δ %= -3,83; p=0,023), LCLC (Δ %= -34,02; p=0,012) e IG (Δ %= -13,63; p=0,004) em relação ao GC de forma satisfatória.
Segundo os dados referenciais de Vale18, pode-se observar que a amostra obteve níveis de autonomia funcional (IG) acima de 27,42; considerado fraco, tanto no pré e pós-treinamento para todos os grupos. Demonstrando que no escore do IG nenhum dos grupos obtiveram melhoras estatisticamente significativas nos níveis de autonomia funcional preconizados por Vale18. (Tabela 3)
Discussão
Os programas de treinamento muscular respiratório, utilizados para este estudo a fim de promover melhoras nos escores para a autonomia funcional, parecem não ser amplamente satisfatórios, diante dos resultados obtidos.
O treinamento muscular respiratório (TMR) foi melhor para a autonomia funcional nos gerontes participantes deste estudo no programa do grupo Threshold (GT). Entretanto, não foram observadas mudanças significativas capazes de melhorar os escores de acordo os valores referenciais de Vale18. Estes resultados corroboram com a revisão sistemática de literatura realizada em pacientes com fibrose cística na observância da melhora da capacidade funcional utilizando o treinamento muscular respiratório, em que se concluiu que o benefício do treinamento em adolescentes e adultos com fibrose cística para melhorias na função dos músculos inspiratórios são apoiados através de uma evidência fraca. Seu impacto em capacidade de exercício, dispneia e qualidade de vida ainda não está claro19.
Para o teste caminhar dez metros (C10m), os programas de treinamento utilizados pelos grupos Threshold e Voldyne, quando comparados intragrupos, (pré x pós-treinamento) tiveram médias e desviopadrão para distância percorrida significativas, 9,58±2,53 x 7,61±1,83 e 9,36±2,60 x 7,76± 2,07, respectivamente. Apoiando parte deste estudo, Vasconcelos et al.8, realizaram um estudo correlacional entre a força dos músculos respiratórios através da pressão inspiratória máxima (Pimáx) e pressão expiratória máxima (Pemáx) e a capacidade funcional pelo teste de caminhada de seis minutos e observaram que os valores dos coeficientes de Correlação de Pearson entre a distância percorrida e a Pimáx e Pemáx foram, respectivamente: r= 0,44 (p = 0,005) e r = 0,27 (p= 0,11), havendo uma correlação positiva somente para a Pimáx, recomendando o TMR para os programas de reabilitação física, para a contribuição da capacidade funcional em idosos. Porém, neste estudo o C10m foi significativo de forma isolada, sem provocar diferenças significativas no índice geral (IG) do protocolo utilizado.
Outro estudo correlacionou a força da musculatura respiratória e periférica com a capacidade funcional de 65 idosos. Foram encontradas correlações moderadas e significativas entre as musculaturas periféricas e respiratórias, assim como destas com a capacidade funcional dos idosos. Os resultados apontaram para uma associação entre maior força muscular e maior distância na caminhada de seis minutos20. Um ensaio clínico randomizado e controlado21 realizado em 33 pacientes com fraqueza muscular respiratória portadores de insuficiência cardíaca, realizando treino muscular inspiratório, um grupo com utilização do Threshold com carga incremental e outro grupo sem carga resistiva. O grupo treinado com carga incremental obteve aumento significativo na Pimáx e na capacidade funcional, medida pelo teste de caminhada de seis minutos, fato que não ocorreu no grupo sem carga. Esses resultados vêm apoiar os obtidos no presente estudo, pois se analisarmos isoladamente o teste de caminhar 10 metros (C10m), o GT e o GV obtiveram melhoras significativas (p<0,05) no pré e no pósteste para esta variável. Os grupos treinados com adição de equipamentos a pressão e ao volume obtiveram melhoras significativas em alguns testes, porém o escore do IG calculado para os mesmos permaneceu inalterado. Portanto, o IG não foi significativo para o ganho alcançado pelo TMR.
Os resultados apontaram que no grupo treinado com carga incremental foi observado aumentos significativos na Pimáx e capacidade funcional, medida pelo teste de caminhada de seis minutos, fato que não ocorreu no grupo sem carga. Esses resultados vêm apoiar os obtidos nesse estudo, pois se analisarmos isoladamente o teste de caminhar 10 metros (C10m), o GT e o GV obtiveram melhoras significativas (p<0,05) no pré e no pós-teste para esta variável. No entanto, o IG não foi significativo para o ganho alcançado pelo TMR, pois nos grupos treinados com adição de equipamentos a pressão e o volume obtiveram melhoras significativas em alguns testes, porém o escore do IG calculado para os mesmos permaneceu inalterado.
Os estudos que avaliam a capacidade funcional de indivíduos, sejam eles idosos ou portadores de doenças, utilizam bastante o teste de caminhada de seis minutos, deixando de avaliar outras aptidões físicas dos indivíduos. Em contrapartida, os idosos institucionalizados são mais suscetíveis aos prejuízos causados pela pouca mobilidade e consequente diminuição da autonomia funcional. Um estudo realizado por Creutzberg2 em instituições de longa permanência (ILP), enfocando o sistema de saúde vigente e cuidados ao idoso, relata que o isolamento social evidencia que a prática dos profissionais nas ILP têm uma atuação fundamentada, em grande parte, pautada num modelo assistencial, resultando em assistência protecionista, não sendo observadas as possibilidades de promover as potencialidades do idoso, a liberdade de escolha e aumentando o quadro de dependência, falta de perspectivas e isolamento social.
O isolamento social vivenciado pelos gerontes deste estudo favorece ainda mais a perda da autonomia funcional, apontando para um trabalho interdisciplinar, incluindo a prática de exercícios físicos e outras atividades promotoras de saúde e bem-estar. O treinamento muscular respiratório surge como uma opção terapêutica nesta população para a diminuição dos riscos respiratórios, confirmado pelo estudo de Villas Boas & Ferreira22, que observaram a prevalência de infecções em idosos de instituições de longa permanência, em que nos investigados a infecção respiratória foi a que apresentou maior percentual 50%.
Tendo em vista que este estudo buscou investigar o impacto que os programas de treinamento muscular respiratório poderiam causar no aumento do nível de autonomia funcional dos idosos e conforme apresentado nos resultados dos deltas percentuais, o GT, embora tenha apresentado resultados melhores para os testes propostos pelo GDLAM, ainda assim não mostrou diferenças significativas em todos os testes analisados. Entretanto, esses resultados podem ser justificados pela pouca mobilidade a que estão expostos os idosos residentes em instituições de longa permanência. Por estarem sempre dependentes dos cuidadores, os mesmos se movimentam pouco, até mesmo para seu autocuidado, restringindo suas atividades de vida diária a trabalhos manuais, como costura, bordados e artesanatos, ou a assistirem à televisão. Diante destes achados há de se refletir sobre alternativas possíveis para contornar a pouca mobilidade desta população.
Assim, esse estudo deve ser considerado como apenas um começo para futuras investigações, sugerindo que estudos prospectivos também sejam aplicados com o objetivo de avaliar os efeitos do treinamento e de sua continuidade, a fim de promover melhoras nas habilidades físicas e funcionais e retardar o aparecimento de complicações inerentes ao envelhecimento, que são previsíveis e na grande maioria preveníveis.
Entretanto, a realização de estudos multicêntricos seria um fator relevante para discussões posteriores, pois há evidências que as diferenças regionais e culturais nesta população podem divergir nos resultados encontrados. É notório o declínio das habilidades cognitivas e motoras, incluindo a dependência funcional própria do envelhecimento, principalmente no caso de residentes de instituições de longa permanência. Por outro lado, sabe-se que muitos desses déficits podem e devem ser minimizados ou controlados através da observação direta dos profissionais de saúde, envolvidos na promoção do envelhecimento saudável. Medidas simples, porém criteriosas, poderiam ser adotadas para que o idoso venha a ter um envelhecimento pautado principalmente no cuidado da atenção primária à saúde, já que as doenças do sistema cardiorespiratório são uma das maiores causas de internamento hospitalar com o avançar da idade.
Faz-se necessário chamar a atenção, principalmente, para idosos de instituições de longa permanência, onde com frequência a apatia moral e social é bastante presente, levando ao desinteresse pela realização das atividades da vida diária, lazer, exercícios físicos, dentre outras habilidades que proporcionam uma vida mais ativa.
Conclusão
Após a análise dos resultados, pôde-se observar que o TMR realizado pelo GT obteve resultados parcialmente satisfatórios na autonomia funcional. Entretanto, diante da ampla definição sobre a autonomia funcional de idosos, embora o grupo Threshold tenha apresentado melhora em relação aos demais grupos, não foi observado melhora nos níveis de autonomia em todos os testes propostos pelo protocolo de GDLAM, ou seja, o IG permaneceu fraco.
No entanto, é notório que o TMR em idosos institucionalizados mostrou-se importante para compor um programa de reabilitação pulmonar, visto que a fraqueza muscular própria da senescência, associada à pouca mobilidade, favorece o aparecimento de doenças respiratórias e crônico-degenerativas e, consequente, perda da autonomia funcional.
Surge uma reflexão acerca de outros protocolos que reproduzam também as atividades de vida diária dos indivíduos, como mais estudos utilizando o protocolo de GDLAM em outras populações, para dessa forma favorecer uma comparação mais acurada acerca da capacidade funcional. Parece ser imprescindível que idosos institucionalizados tenham um maior acompanhamento das habilidades físicas e funcionais, para a detecção precoce de dificuldades para realização das AVD, utilizando como marcadores da perda funcional testes para a avaliação da autonomia funcional, como o do GDLAM que é de fácil execução.
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